sexta-feira, 10 de junho de 2011

ESCOLHAS, UMA REALIDADE VIRTUAL?



A proposta foi produzir um audiovisual de pretensa interatividade através da oferta de duas possibilidades de continuidade da história disposta em 5(cinco) partes de aproximadamente 1(um) minuto, 2(duas) escolhas, criando uma narrativa ramificada com combinações que resultam em 16(dezesseis) diferentes finais, num total de 31(trinta e um) pequenos vídeos. Mesmo que a liberdade de criação seja pautada por respostas previamente elaboradas para cada escolha, há um direcionamento para questões abordadas em disciplinas do curso de Mestrado, principalmente em assuntos específicos de Economia Política do Audiovisual.

Cada uma das cinco partes teve apenas um cenário e visualmente as ações dos personagens são sempre as mesmas do decorrer da trama não importando a escolha do espectador. O maior empenho foi realizado no planejamento e roteirização do produto e suas variações, para que permitissem um fácil trânsito sonoro por diferentes referências, criando novas histórias.

Os custos reais de produção se resumem a alimentação e transporte da equipe e do elenco, pelas opções propostas acima, há uma simplicidade visual e uma mise-en-scene pouco elaborada, a opção pelo branco na composição do cenário para que o grande alternador de versões seja apenas sonoro e nele se concentre o foco. Buscando minimizar os custos, também foi utilizada luz ambiente natural com apenas um rebatedor e gravado com uma câmera HD que permitiu a transferência direta dos arquivos para edição no computador. Áudio foi gravado em off, trilha especialmente composta por um músico colaborador e os efeitos de foley gravados pela câmera e também de banco de dados sonoro gratuito. Toda equipe e elenco trabalharam em sistema cooperativo através da Cumbuca Filmes.

Além de buscar tensionar o padrão tecno-estético, aborda questões políticas e econômicas que cercam a produção audiovisual, tais como:
- Direitos autorais, texto de Walter Benjamin (sobre reprodutibilidade técnica) em cópias xerocadas para estudos da personagem, utilização de vídeos e musicas oficialmente protegidas nos seus direitos.
- Apropriações e acessos, a música lembrada na voz de Elis Regina, assim como tantas outras, ganhou versões para a mesma música, as que compõem o trecho do filme foram escolhidas de maneira aleatória de acordo com a oferta pelo sistema de busca. Pelo YouTube podemos verificar os acessos dos mesmos até o dia de gravação. O vídeo “oficial” da música apresenta um grande numero de acessos, ao lado dele temos o pretensamente profissional e cheio de efeitos ultrapassados e de mau gosto, aquele disposto a ser descoberto, com talento ou sem, o show profissional mas mal gravado pelo fã e aquele que serve ao que se propunha inicialmente o YouTube, vídeo pessoal(familiar) depositado e acessível na internet.
- Dominação x Exploração, financeira e política, coronelismo, licenças, ilegal x legal
- Clichês nos personagens (raça, local, país, crenças) e situações.
- Gêneros: no caso proposto oferece dois gêneros cânones do cinema, romance e horror, porém permeados de humor.
- Interatividade direcionada, as escolhas realizadas por quem assiste são de superfície e os questionamentos estão sempre presente nas entrelinhas, não há diálogo de um mesmo nível de poder.

O final é uma crítica a dificuldade econômica e de mercado para a realização audiovisual, que geralmente não chega aos olhos do espectador, no Brasil o aumento da produção permitido pela digitalização do processo não encontra escoamento na distribuição, é realizado com poucos recursos e não tem visibilidade, ou quando tem na internet nem sempre tem reconhecimento por mérito ou qualidade.

A realização de um organograma foi essencial para a ramificação e a realização de links entre os vídeos (anexo). Conseguir diferenciar apenas por áudio tamanha diversidade de situações, sem equipe especializada, sem custo adicional e com pouco tempo disponível, foi uma das dificuldades. Tempo que também foi decisivo na escolha por compactar ainda mais arquivos, sendo que a primeira tentativa de publicar arquivos em alta resolução foi frustrante já que os 6(seis) primeiros levaram mais de 40(quarenta) horas para fazer upload, mesmo que o YouTube aceite arquivos de até 2GB é impossível disponibilizar uma maior quantidade de vídeos em alta resolução com as conexões oferecidas que em grande maioria são de 2MB a 10MB, na teoria e muitas vezes por questões técnicas acabam sendo reduzidas. Mesmo permitindo diversos formatos, alguns, mesmo de alta qualidade, distorcem a aparência do filme e por isso, apenas depois de 1 semana do inicio da publicação obtive êxito. O audiovisual na internet em alta definição ainda é uma realidade para poucos, seus usos, produções e disponibilização ainda tem um grande percurso a seguir. Parece ilusória a oferta de uma verdadeira interatividade dentro dos padrões atuais do audiovisual, dentro e fora de um “mercado”. As estruturas e as plataformas oferecidas para distribuição e armazenamento dos materiais ainda está a passos lentos se comparada a técnica audiovisual fora da rede.



Renata Heinz

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