sexta-feira, 10 de junho de 2011

Do SD ao HD, passando pela musa do dinheiro público.

Contratado para implementar um novo tipo de projeção, em um festival de cinema nacional, deparei-me com um dilema: devo utilizar os recursos públicos disponíveis para suprir o que me é solicitado seguindo a já existente tendência em tradicionais festivais ou pesquisar meios mais baratos e tão eficientes quanto os amplamente utilizados, economizando tais recursos?

Propus a realização de um documentário, com aproximadamente 10 minutos, onde demonstro como foi feita a pesquisa e o resultado dela. Utilizando de cálculos simples, equipamentos baratos e padrões abertos (amplamente difundidos e utilizados pela indústria), foi possível economizar aproximadamente 90% dos recursos públicos destinados para a projeção. Esta otimização resultou de um processo colaborativo entre a direção do festival e os realizadores.

No entanto, no decorrer da realização do documentário percebi que seria inadequado realizar um documentário sobre o CineEsquemaNovo e utilizar uma linguagem muito didática. Inicialmente o documentário estava cumprindo seu objetivo informacional, mas possuía uma linguagem mais parecida com os canais de venda e dos programas educativos. Considerando que o CineEsquemaNovo é um festival de cinema experimental e/ou criativo, foi necessário voltar o projeto do zero e encontrar novas formas de informar.

Decidi primeiramente excluir a possibilidade de usar uma narração. Dentre as tentativas todas resultaram em um material informativo, que mais parecia vender o equipamento que justificar as escolhas dele para o festival. O filme começa com a vinheta da edição do ano de 2009 do festival em baixa resolução e passando para a do ano de 2011 em Full-HD. A primeira vinheta diz “os tempos bons não voltam, os tempos bons só vem.”. Aqui esta fala é ilustrada pela passagem de um projetor de 35mm para uma câmera digital. Os festivais de cinema, quando se utilizava primeiramente película, tinham uma variedade muito menor de formatos e bitolas que hoje, em que cada câmera possui seu próprio preset. Apesar de a preocupação com a compatibilidade na exibição serem menores com a película, os custos de produção eram muito mais caros. Portanto os tempos bons, de não se preocupar com compatibilidade, não voltam, os tempos bons de se produzir com baixo custo, só bem.

As vinhetas são interligadas através da fala de um dos sócios onde ele diz que o desejo do festival é ser desejado, para isso o CineEsquemaNovo está em constante busca de aprimoramentos. A “musa” ri do sócio, não debochando dele, mas desafiando-o. Full-HD ainda é caro, como iremos implementar?

Em seguida um trecho do filme “Baptista virou máquina”, de Carlos Dowling transforma-se sutilmente de baixa para alta-resolução. Este filme participou da mostra competitiva festival neste ano.

Seguida desta demonstração do benefício buscado pelo festival, há a fala de Martin Scorsese, reiterando que a experiência espectatorial é grandemente beneficiada com as novas tecnologias.

Em seguida há uma tabela, necessária para comparar as opções disponíveis para a exibição dos filmes resolvi reformatá-la. Além de torna-la mais breve, ela foi gravada para ser não somente informativa, mas também ter função estética, juntamente com a música e os efeitos sonoros que a acompanham.

Após a tabela são mostrados alguns depoimentos sobre o equipamento utilizado, estes são interrompidos por uma cena do filme “Céu, inferno e outras partes do corpo” de Rodrigo John. A cena escolhida deste filme ilustra como entramos em um modo automático, sem preocupações de inovação, quando o que está em jogo não é diretamente nosso. No caso do festival tivemos uma preocupação de utilizar bem o dinheiro destinado, mesmo tendo mais trabalho por conta disto. Se tivéssemos utilizado a opção de ter um computador potente para cada sala de cinema, o tempo gasto com cada filme seria menor pois o computador aceita uma infinidade de formatos. No entanto, ao trabalhar com os realizadores e limitar para o número de formatos aceitos pelo WDTV economizamos 500% do valor gasto.

Daniel Petry



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