Considerando o material lido, refletido, exposto e analisado, o que implica em identificar algum grau de mudança histórica nos planos cultural-comunicacional, econômico e político, a proposta é de reflexão sobre a produção e a distribuição do audiovisual na contemporaneidade, considerando as condições da população brasileira (de carências e, correlatamente, de potencial criativo) e a centralidade midiática nas atuais formações sociais (independentemente da denominação dada a este período histórico, que, de qualquer forma, relaciona-se com o papel da informação, da comunicação e do conhecimento nas dinâmicas sócio-econômicas). Diante disso, questiona-se: tendo em vista os marcos conceituais trabalhados neste encontro e ao longo da disciplina, como desenvolver processos de inclusão digital (acesso e participação) num país como o Brasil, reconhecendo-se o audiovisual como conteúdo essencial das novas mídias e mesmo a importância da imagem na sociedade?
8 comentários:
Prezados
Como os links não estão funcionando, mando os endereços para download dos textos de nosso encontro.
http://www.lucianosathler.pro.br/site/images/conteudo/livros/direito_a_comunicacao/49_63_
sociedade_de_la_informacion_e_nueva_economia_tremblay.pdf
http://www.alaic.net/ponencias/UNIrev_Herscovici.pdf
http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/viewFile/126/156
João.
Atualmente, dentre os jovens, a importância da imagem é cada vez maior. Desde o advento do fotolog, das redes sociais, e da migração do blog para o videoblog, os adolescentes estão cada vez mais habituados com a reprodução da própria imagem.
No que diz respeito a inclusão digital, ela ainda é muito ineficiente. É claro que cada vez mais hoje em dia, as pessoas possuem cameras e celulares que gravam, o que facilita a realização de fotos e vídeos. E também cada vez mais pessoas, principalmente os jovens, têm acesso a internet, podendo compartilhar idéias e imagens.
No entanto, a inclusão digital, precisa caminhar junto com, a reconfiguração da importância da imagem na sociedade. É preciso não somente possibilitar acesso a aparelhos de produção e distribuição de imagem, mas também a reflexão sobre a realização da imagem.
Na atual “era” da imagem, me surpreende não haver um debate escolar, sobre o papel da imagem na adolescência. É necessário criar projetos que possam levar o jovem a debater tanto a realização prática, quanto teórica daquilo que produz. Este tipo de inclusão, vinculada ao debate, pode tanto possibilitar a formação de futuros realizadores, quanto a de espectadores menos imbecilizados. O adolescente, encontra atualmente através da imagem, uma maneira de expressão, um espaço de sociabilidade, de criação, de interação, de encontro com seus semelhantes. A imagem, o video, parece constituir um espaço que antes cabia somente a música.
Ainda no que diz respeito ao audiovisual, agora no que diz respeito a questão mercadológica, também é preciso aplicar políticas de incentivo, e de inclusão. Contudo, no mercado a didática, precisa ocorrer de forma mais organizada.
Anualmente, bastante dinheiro público, seja ele de editais do governo, ou de leis incentivo, é distribuído para a realização de material audiovisual.
Mas, para onde vai este material? Quem o assiste? Ele colabora na inclusão digital?
Talvez sim, ainda de maneira muito restrita, mas possivelmente sim. Contudo, o que acontece atualmente, é que os editais são ainda muito incoerentes. Nos editais de roteiro de longa-metragem, por exemplo, o roteirista recebe de 25 a 50 mil, para a realização do roteiro. Mas, não existe nada que garante que ele venha a filmar, este mesmo roteiro. Não existe uma política que sustente o sistema. São colaborações esporáticas, que terminam em si mesma. No caso dos editais mais específicos, de pontos de cultura, por exemplo, falta muitas vezes qualidade técnica, conhecimento de linguagem. Não estou dizendo que estes editais deveriam ser cancelados, pelo contrário, é preciso um apoio público mais inteligente. O governo, não pode simplesmente fornecer dinheiro, aos roteiristas, aos pontos de cultura, precisa garantir para o roteirista a possibilidade de realização do seu filme, e aos pontos de cultura, uma capacitação em produtos audiovisuais que possa gerar produtos mais ricos culturalmente, e visualmente para o próprio país. No que concerne ao audiovisual no Brasil, é preciso parar de simplesmente distribuir dinheiro para a feitura dos projetos. Eles precisam circular, chegar em outros locais, gerar renda se possível. Do contrário, o audiovisual não alcança seu objetivo. Um projetor rodando um filme em uma sala de cinema vazia, não gera sentido algum, nem colabora com a inclusão digital.
A demora em responder a esta pergunta não vem só do dia que postei as outras respostas até aqui, é algo que venho pensando há algum tempo: como desenvolver processos de inclusão social (independente da forma), numa perspectiva transformadora? Como fazer com que as produções culturais sejam feitas pelo e para o público através de conceitos plurais e não apenas centrados em modelos hegemônicos?
Antes de tentar sistematizar o que no momento acho possível para responder a estas questões, gostaria de dialogar com a resposta do Willian. Primeiro, concordo que por mais que tenhamos mais acesso a equipamentos de produção e de publicação, caso do Youtube, falta-nos certa "educação" na produção, que seria ter certa construção teórica (o sujeito consciente de sua participação e de seus problemas no seu entorno social) e prática que não fiquem presas aos modelos comerciais de produção.
Além disso, intrometendo-me numa área que não é diretamente a minha, o que falta em relação as editais é a possibilidade de circulação. Há o financiamento para a produção, com várias barreiras burocráticas que favorecem a setores mais mercadologicamente organizados, mas não é o incentivo para que esta produção possa ser vista em vários lugares que não apenas o cinema cultural da cidade - nos casos que não seguem a estética hegemônica. Até há projetos aqui e acolá com esse sentido, caso do Itaú Cultural, mas não é algo, pelo que conheço, existente em editais federais.
Se o audiovisual é importante para a sociedade como um todo, para o caso brasileiro, vocacionado à oralidade, representa ainda maior importância por ser ainda o referencial de "verdade" das pessoas. Um dos grandes problemas da produção contra-hegemônica (termo no sentido de conteúdo) é que tende a fazer o oposto quanto a padrões técno-estéticos, mas as pessoas estão acostumadas com o padrão normal. Então, é necessário criar uma espécie de meio-termo, fazer com que se possa entender o que está na tela, mas, ao mesmo tempo, mostrar um material, estética e em termos de conteúdo, melhor que os das grandes empresas.
Além disso, não gosto do termo inclusão, pois dá a ideia, ao menos para mim, de adaptação ao que se já tem; e não queremos que as pessoas participem mais para fazer o mesmo. Ligando à prática freiriana de alfabetização, é preciso antes fazer com que as pessoas tenham consciência da sua realidade social e passam a reivindicar alterações para melhorá-la. Neste ponto, dada a importância da imagem para a sociedade contemporânea, ele se torna essencial para uma produção qualificada para democratizar a comunicação de forma real, através da socialização dos seus processos de produção e de possibilidades de recepção.
Vou compartilhar com o William de um setor da sociedade que ele foca na análise dele que é a juventude, pois muito se percebe, se observa, e enfim é imposto ao nosso olhar, mesmo através das ruas quando nos dirigimos para a faculdade, ou até na nossa caixa de mensagens por e-mail, somos bombardeados por produções, independentes, muitas vezes sem pretensão, que por consequência podem ter um grande impacto. Outro ponto que se pode analisar é que a juventude que opera esses aparelhos, esses dispositivos, que tem grande parte do potencial, que esta em fase de aprendizado, muitas vezes superando aquele profissional que estacionou no tempo, está num processo que muito diferente de décadas atrás que é denominado era das “distopias”, ou seja uma ausência de utopia e busca de um melhor ideal, um acomodamento da geração, que até anteriormente era vista com maior potencial reivindicatório. Pessoalmente já presenciei eventos, onde se utilizava vídeos transmitidos direto por sites no formato tube, com uma internet com velocidade compatível que proporcionava o andamento do evento, assim como em algumas aulas temos acesso direto a esses matérias que são postados na web. Enfim o processo está correndo, e as tecnologias cada vez mais velozes, e uma demanda cada vez maior a ser atendida, e com isso um grande número de pessoas com que merece ser dada a atenção e inseridas neste contexto, para que possam acompanhar o desenvolvimento comunicacional e informacional.
As novas tecnologias da informação e da comunicação cumprem um papel central na organização do trabalho e na formação de demandas. Essa “nova” sociedade traz o desafio de compreendermos a direção das mudanças sociais. O certo é que a informação se converteu em fator de produção e que ela está, junto com a comunicação, no coração do funcionamento das sociedades.
A sociedade da informação é uma superação da sociedade industrial, quebrando algumas lógicas até então estabelecidas, como a da oferta e da procura, da produção e da recepção e a dos direitos autorais e da própria noção de autoria.
As TICS são responsáveis pelo desenvolvimento das sociedades em rede e definem um novo modo de desenvolvimento compartilhado. O uso das tecnologias torna-se importante neste momento para a utilização de muitas empresas que agora estão atuando em todo o mundo. Isso também dá a oportunidade de produtos comunicacionais serem disseminados para qualquer ponto com uma facilidade e rapidez antes nem observada nos meios de comunicação de massa. A distribuição encontrou um canal que está disponível a qualquer momento, em qualquer lugar. O necessário é ter a tecnologia disponível da época para que seu produto comunicacional seja colocado à disposição de uma audiência mundial.
A quantidade e o tipo de informação contido em uma mercadoria denotam a sua valorização econômica. Portanto, a informação é muito valorizada. O conhecimento como motor da economia, aliado às redes digitais de informação, faz pensar na propriedade intelectual.
Este novo tipo de construção de saberes passa a fazer parte do cotidiano daqueles que dispõem da tecnologia para ter acesso às redes digitais de comunicação. Aqueles que não têm acesso ficam à margem. No entanto também devem ter a oportunidade de absorver esta nova formatação de construção de conhecimento. A autoria de trabalhos começa a ser compartilhada com este novo tipo de configuração da sociedade da informação. Um tipo de inteligência coletiva pode produzir variados produtos midiáticos. Cada um pode contribuir um pouco numa construção total.
Em relação ao audiovisual, pode-se dizer que a produção foi facilitada, com custos reduzidos para a realização de um produto deste tipo. Na atualidade qualquer aparelho celular possui uma câmera de vídeo. Todo fato vira acontecimento, pois temos imagens de tudo. Os cinegrafistas não são mais apenas os profissionais; cada pessoa é um potencial realizador de imagens para diversos meios, como a internet e a televisão. Muitas imagens da internet são buscadas pelas emissoras de televisão e exibidas em seus telejornais.
Esta nova centralidade da comunicação e das tecnologias digitais vai constituir uma das principais características das mudanças que vivem as sociedades industriais avançadas. A sociedade da informação deve dar a oportunidade para todos de contribuir e, também, de receber conhecimentos por meio da utilização das novas mídias (dentre elas a utilização do audiovisual como potencial meio para a construção e disseminação de saberes). Mesmo que tenhamos uma apropriação de conhecimentos pessoais, pode-se dizer que o saber é coletivo. Todas as coletividades que devem ser contempladas de alguma forma com o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação.
Michael Kerr
Assim como os colegas que já se manifestaram, enxergo no estudante uma das bases para esta inclusão digital em termos de produção, circulação e, principalmente, questionamento do audiovisual e da mídia, pelo menos no que se refere a políticas públicas. Também compartilho a preocupação do Anderson com o fazer diferente, o fazer contra-hegemônico, mas considero o uso da expressão “inclusão” mais em termos de acesso à tecnologia do que de reprodução do padrão estabelecido. Portanto, pelo menos por ora, não me oponho ao uso do termo.
Fato é que a escola não pode ficar fora desta concepção de modelos alternativos de produção audiovisual. A educação para a mídia (a educomunicação) consistiria uma opção importante para uma certa alfabetização midiática, que fornecesse ao aluno ferramentas e conceitos que colaborem para o seu posicionamento diante da carga exagerada de informações que recebemos pelas redes digitais e analógicas. Junto a esta instrumentação, viria o aporte prático oferecido pelos laboratórios de informática destas mesmas escolas.
A produção dos alunos poderia ser compartilhada, dentro de uma mesma escola e entre as instituições de ensino, a partir tanto de trabalhos dirigidos quanto de trabalhos livres. O Ministério da Educação e boa parte das secretarias estaduais de educação têm programas de qualificação que poderiam ser adaptados a esta capacitação docente para o uso dos meios digitais. Na outra ponta, há projetos em andamento de instalação de computadores nas escolas públicas, além do que a implementação do Programa Nacional de Banda Larga começa a ganhar terreno no país.
Este trabalho seria complementado com a realização de parcerias com organizações não-governamentais, movimentos sociais e sindicatos de trabalhadores. A estrutura dos sindicatos serviria para a produção de audiovisuais de padrões tecno-estéticos alternativos da mesma forma que os laboratórios de informática das escolas, e estas produções poderiam ser compartilhadas pelos meios digitais entre os sindicatos. Da mesma forma, as universidades teriam a oportunidade de fomentar ações de qualificação teórica e prática dos militantes e agentes sociais, utilizando-se de estruturas próprias ou dos pontos de cultura disponibilizados pelo Estado, para debater a mídia e questionar as possibilidades de construção audiovisual a partir das próprias comunidades.
A rede de emissoras públicas, os sites oficiais de governo, os canais universitários e os espaços disponíveis na internet para os grupos de estudo e de trabalho das instituições de ensino superior serviriam à distribuição desta produção alternativa, baseada na defesa dos direitos humanos e na pluralidade de rostos, vozes e opiniões. A inclusão digital dos públicos e grupos marginalizados pela estrutura socioeconômica viria por meio deste processo de educação para os meios de comunicação audiovisual.
Luciano Gallas
Parece que um comentário da Renata não entrou. Posto eu mesmo.
Até
João.
RESPOSTA AULA VIRTUAL
Diante disso, questiona-se: tendo em vista os marcos conceituais trabalhados neste encontro e ao longo da disciplina, como desenvolver processos de inclusão digital (acesso e participação) num país como o Brasil, reconhecendo-se o audiovisual como conteúdo essencial das novas mídias e mesmo a importância da imagem na sociedade?
O processo de inclusão digital caminha a lentos passos e não acompanha o ritmo exigido pelo mercado em constante evolução, apoiado principalmente pelo avanço da tecnologia. A implementação de politicas de acesso e a participação direcionados a abranger o grande numero de excluídos do processo, continuam sendo discutidas, e os pontos de interação com funções sociais e econômicas se tornam obsoletos sem chegar perto dos objetivos idealizados. Caberia nessa questão um ajuste real as necessidades especificas de cada região, estado, cidade e grupo, através de um mapeamento do que foi realizado e continua em funcionamento e descartar iniciativas que não obtiveram resultados. Buscar parceria do Estado, ONGs e iniciativa privada na implementação de mais centros equipados e principalmente continuamente mantidos como apoio prático e de instrução para a população. Com a proliferação de tecnologia em dispositivos móveis de acesso a internet, celulares, por exemplo, e computadores para diferentes poderes aquisitivos, uma opção seria a ampliação de locais com acesso gratuito via wi fi, assim como baixa o custo do acesso de banda larga. Porém, além de vontade politica, algumas questões mercadológicas e de reservas devem ser revistas, o que parece distante e um tanto quanto utópico.
O audiovisual exerce por natureza um grande fascínio sobre as pessoas, onde há uma câmera ligada, há alguém posando ou acenando no fundo. Mesmo que a realidade colocada no parágrafo anterior seja uma barreira a digitalização e transmissão de imagens, vemos que a cultura da imagem vem tomando de assalto grande parte das relações sociais. Os quinze minutos de fama se transformaram em realidade através do YouTube, basta ter uma câmera, celular, maquina fotográfica, webcam ou qualquer aparato tecnológico com capacidade de gerar uma imagem em movimento que proliferaram clipes, versões e apropriações de uso de imagem e som. A troca de conteúdos diversos traz a uma diversidade social e cultural que acaba sendo agregador ao potencial criativo, coletivo ou individual, e são redes de relacionamentos (não no sentido único das redes sociais) que extravasam as fronteiras geográficas. Ao tempo que qualquer um pode se lançar ao mundo (literalmente no potencial virtual) em busca de um (pretenso) “sucesso” com originalidade, onde um entre milhares alcança esse objetivo. O alastramento do fenômeno social implementado pela internet, rede social e YouTube levantam questões urgentes e que muitas vezes não estão “bem” resolvidas nem mesmo fora do mundo virtual tecnológico.
Ampliam-se as discussões generalizantes sobre conceitos de originalidade, leis de direitos autorais, autoria individual ou coletiva, barreiras ao avanço entre outras tantas, sem pensar publicamente que precisam ser resolvidas satisfatoriamente fora da rede. Ainda arrisco mais ao dizer que é necessário analisar os atravessamentos desses dois mercados e suas regulações especificas e urgentes, de conteúdos de diferentes características (publicações acadêmicas, literatura, musica, audiovisual, tecnologia, ciência) para uma valorização e proximidade publica que incentive a produção criativa, que não se pense apenas no acesso e no meio, mas também verdadeiramente possibilite a deflagração do processo inicial que sempre e apenas sobreviveu no mercado.
Renata Heinz.
Todas as questões colocadas anteriormente se referem a um questionamento ainda não claramente explicitado no debate: qual a natureza da própria legitimação possível de dar para a cultura em uma realidade na qual ela parece ter importância apenas na medida em que pode ser "útil"? Como ferramenta de inclusão ou como mecanismo para a produção de lucros econômicos, objetivos díspares, a questão que a justifica localiza-se na eficiência de sua apropriação. A situação é constrangedora, e deixa pouco espaço para o entendimento humanista fundamental a partir do qual a cultura passou a ser modernamente valorizada. Se este passado parece ter ficada para trás, em que termos se pode legitimar os usos da cultura que tendem a vê-la do ponto de vista da consequência mais eficaz possível de produzir? Como manter ou sua relevância econômica, ou sua importância política, se seu tratamento decorre de tamanha instrumentalização?
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