segunda-feira, 8 de junho de 2009

O tempo passageiro: imagem-movimento nas multijanelas audiovisuais

Realização: Ananda Morais, Denis Gerson Simões e Lisiane Aguiar.
São Leopoldo, 2009/01.

O tempo passageiro

O tempo é elemento invisível, mas presente no cotidiano da sociedade. Ele entremeia boa parte das relações humanas, pois é através de sua medição que a comunidade se organiza, estruturando o trabalho, o lazer entre outros itens do dia-a-dia. E aproveitar bem o tempo também tornou-se uma necessidade dentro da lógica capitalista. Por este motivo o princípio do fazer mais em menos tempo ganha progressivamente mais destaque. Neste contexto, o espaço de deslocamento das pessoas entre seus locais de convívio passa a ser constantemente refuncionalizado. Realiza-se, a fim de aproveitar o período que antes era de ócio, atividades múltiplas no translado de um lugar para outro, seja elas de lazer, seja de estudo, seja de trabalho. Isso acontece tanto no transito à pé, em veículo próprio ou no transporte coletivo, alterando as formas de comportamento da sociedade.
Este projeto vai ao encontro desta realidade. Através de uma produção audiovisual alternativa de curta duração, pretende-se repensar a questão do tempo pela ótica dos meios audiovisuais. Utilizando-se de um cenário específico e temporalmente definido, durante uma viagem de metrô de superfície entre São Leopoldo e Porto Alegre, pretendem-se registrar de modo alegórico as diversas formas como os usuários se relacionam com a informação em movimento.
Já é sabido pelos usuários de metrôs que muitas formas de informação e de “aproveitamento” do tempo se fazem presentes no translado entre as estações. Sinalização de segurança, textos explicativos, publicidades, jornais, revistas, livros, telefones móveis, aparelhos de MP3 (e variantes dos mesmos), palmtops, notebooks, são alguns dos elementos utilizados pelos passageiros para se informarem e comunicarem dentro dos vagões, dando novo significado ao tempo de viagem, alterando suas mediações com os diversos ambientes e colegas de trajeto. Tendo aqui como foco principal os equipamentos eletrônicos, será promovido um diálogo entre imagens diversas, ressaltando o trem como espaço de passagem, assim como o audiovisual permite também promover uma viagem virtual, que sempre possibilita chegar em algum lugar, mesmo que pelas novas idéias.

A produção das multijanelas

A produção do audiovisual se fez com base em imagens gravadas com câmeras fotográficas digitais caseiras, ainda sendo somadas imagens da internet e sons diversos. Os dados foram captados nos meses de maio de junho de 2009, em meio à circulação cotidiana junto ao metrô, além de uma incursão específica com fins de captar seqüencias que faltavam para o audiovisual. A captação findou na primeira semana de junho, quando também foi realizada a produção.
Do conjunto de informações coletadas utilizou-se de múltiplas imagens que passaram a ser organizadas no que foi caracterizado como multijanelas, reproduzindo possíveis molduras de equipamentos eletro-eletrônicos. A seleção dessas janelas foi feita com base na percepção tida dentro dos trens do metrô de superfície, com base nos equipamentos de uso cotidiano dos transeuntes. As imagens foram selecionadas da internet e tratadas com recursos digitais, ganhando novo aspecto e expondo novo significado.
A organização dos dados seguiu ordens distintas, o que ocasionou não somente um audiovisual, mas sim três, que fazendo uso de bases semelhantes acabaram por contar narrativas diferentes. Também foram os distintos efeitos digitais que resignificaram o conjunto, com suas cores, opacidades e aspectos, dando novo corpo e conteúdo aos produtos. As multijanelas também são resultado das possibilidades tecnológicas que dão chance do cruzamento de diversas imagens simultaneamente, como também ocorre com o cotidiano. É através da mixagem dos ruídos, vozes e músicas que se obteve um novo conjunto a partir do que foi captado. Tentou-se, assim, reproduzir simbolicamente a junção das múltiplas linguagens presentes nos vagões, mas impossíveis de serem captadas pelo olho humano de modo conjunto

Padrão Técnico-estético

Inegavelmente a sociedade está permeada de padrões. No que se refere aos audiovisuais, os padrões tecno-estéticos dos veículos hegemônicos acabam, querendo-se ou não, influenciando as novas produções, seja como ponto de referência para se atingir padrões de qualidade popularmente aceitáveis, seja para divergir destes e propor alternativas. Assim, seguindo ou não padrões vigentes, é evidente que no momento da proposta de um novo trabalho há construções de referências.
Esta proposta de produção de audiovisual, segmentada em três trabalhos, buscou evidenciar esta relação entre o ponto de partida, que tem base em padrões consagrados, e as novas possibilidades alcançadas na chegada ao destino, produto de modificações graduais no decorrer da viagem. De certa maneira isso é a própria analogia ao tempo passageiro, que ao informar-se acaba saindo de um ponto de um modo e ao chegar já está alterado, mesmo sem perceber. São mudanças gradativas no passar do curto espaço de tempo dos vídeos produzidos, cada um expondo este aspecto de seu próprio modo.
O projeto visou não apenas produzir um produto novo repensando o tempo a partir dos meios audiovisuais, mas buscou refletir no seu próprio formato as concepções abordadas. A forma, assim, conta também o conteúdo, e vice-versa. É a construção de um pensamento através de imagens em movimento, como que a câmera imitasse os olhos e a montagem o próprio raciocínio. É na mescla das imagens que se dialogou com uma realidade mais racional e o que tange essa lógica, aparentando o abstrato.
Assim, os resultados deste do projeto mesclaram a realidade visível (que se pode observar nos vagões de um metro) e a invisível (que se imagina, se constrói nos lapsos ou pensamentos). É um pouco da tentativa do diálogo do mundo concreto, das ações humanas e o imaginário dos usuários. O mundo dos homens não é feito somente do universo palpável, estando, neste contato com a informação, intrinsecamente ligado às imagens do psicológico. Que imagens poderiam ser estas? E o que imaginar do futuro dentro dos vagões? Uma viagem que sai de São Leopoldo, com destino a Porto Alegre e passando por muitas descobertas.

Os audiovisuais

O resultado deste trabalho, pelo diálogo com as imagens e sons, produziu três audiovisuais distintos. Cada um deles tem simultaneamente uma mesma idéia inspiradora, dialogando e formando novas conexões. Todos são respostas a remontagens do que foi captado, sendo produzidos um após o outro, como que um fosse a resposta a um anseio promovido pelo vídeo anterior, em uma dialética que chega à síntese no terceiro produto. Assim, torna-se necessário dialogar sobre eles, que terão o mesmo nome, mas sendo nomeados aqui pela ordem cronológica de produção.

1. O PRIMEIRO: É um olhar do viajante do trem, que anda pelas estações e a partir destas múltiplas imagens constrói ligações entre os significantes e significados. Promove um diálogo entre o conteúdo do presente e a memória do passado, com referências diversas.
2. O SEGUNDO: Este é um olhar do pensamento, de imagens em movimento no diálogo das idéias. São as lembranças que se entrecruzam e giram entorno de diversas referências, nebulosas e sem velocidade definida. É um retrospecto do mundo somente formulado pelo homem em seu espaço desconexo da realidade, em suas próprias multijanelas.
3. O TERCEIRO: É o diálogo dos dois audiovisuais iniciais, mas transpondo-os ao fazer pontes entre ambos. É a visão do mundo do cotidiano transitando para a realidade do mundo virtual, que pode estar na mente ou no desejo de poder ver. É o conjunto a se refazer através da soma de diferenças e da decorrência de uma síntese.

Dados do processo

· Título: O tempo passageiro: imagem-movimento nas multijanela audiovisuais (1, 2 e 3);
· Idéia original: Denis Gerson Simões e Lisiane Machado Aguiar;
· Captação de imagens: Denis Gerson Simões e Lisiane Machado Aguiar;
· Equipe de produção: Ananda Morais e Lisiane Machado Aguiar;
· Finalização: Ananda Morais;
· Tempo captação total: 3 horas;
· Tempo montagem: 15 horas;
· Gastos de produção: R$ 3,70 (CD virgem + passagem metrô).


Vídeo versão 01 -



Vídeo versão 02 -





Vídeo versão 03 -

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