domingo, 22 de abril de 2012

Considerando os textos de Giddens e Castells e os demais conteúdos publicados, exponha os argumentos centrais sobre o processo de transformação nos processos socio-históricos de produção de riquezas, com atenção especial às indústrias de comunicação e, de modo mais pontual, à produção audiovisual. Atente para as condições específicas do Brasil contemporâneo.

7 comentários:

Camila Schäfer disse...

Não sei se é bem isso, mas vamos lá.. hehe

Segundo Giddens, nas sociedades pré-modernas, o tempo era ligado ao espaço, mas na modernidade os relacionamentos são descolados no tempo e espaço. A escrita, as fichas simbólicas (especialmente o dinheiro) e os sistemas perito são exemplos desse descolamento. No entanto, algumas ferramentas surgem como formas de reencaixe dessas relações. Os meios de comunicação representam uma dessas ferramentas. Através deles podemos ter contato com acontecimentos em espaços e tempo diferentes daquele em que vivemos.
Pela primeira vez na história, o mundo está organizado com base em um conjunto de regras econômicas comuns, o capitalismo. Ele também dá forma às relações sociais. Na sociedade em que vivemos, a tecnologia e a informação são ferramentas decisivas para a geração de lucros e apropriação de fatias de mercado. A norma continua sendo a produção pelo lucro, mas a diferença é que com a sociedade em rede e os mercados globais, os lucros de todas as fontes convergem em busca de maiores ganhos. Portanto, o desenvolvimento da sociedade passou da busca pela produção de excedentes para a busca pela produção de riquezas. Na sociedade em rede e na economia informacional, a geração de riqueza depende da capacidade tecnológica da sociedade e dos indivíduos.
Ora, era de se esperar que, em uma sociedade onde a informação é tão importante, os meios de comunicação também ganhassem importância. Justamente pela importância que os meios de comunicação adquirem nesse momento, é que eles se constituem em um espaço de poder, como afirma Castells. Segundo ele, o poder comunicativo é o poder fundamental.
No entanto, assim como qualquer forma de negócio e inseridos em uma sociedade capitalista, o objetivo dos meios de comunicação é gerar dinheiro. A televisão pode até informar e entreter, mas seu princípio geral é gerar audiência para gerar dinheiro. Se pensarmos na grade de programação de uma emissora, veremos que ela prioriza tipos de programas de acordo com a audiência daquele horário. No entanto, antes de pensar no benefício do público, ofertando programas diferenciados e inovadores, ela continua seguindo os mesmos modelos de décadas, já consolidados e que geram lucro. Se Castells ainda não acertou em algumas de suas previsões sobre o século XXI, pelo menos ilustrou bem a busca pela exploração contínua do planeta à procura de novas oportunidades de geração de lucros.

Naiá Giúdice disse...

Também não sei se era bem isso, mas segue observações dos textos...

Giddens desenvolve a análise das características e consequências da modernidade, a partir do descolamento do tempo e do espaço. Afirma que a separação do tempo e do espaço é a principal condição do processo de desencaixe, distinguindo dois tipos de mecanismos presentes nas instituições modernas, as fichas simbólicas e os sistemas peritos. Usa como exemplo de ficha simbólica o dinheiro, que é o meio de troca que substitui os bens e serviços por um padrão universal, mas que na modernidade, o dinheiro pode ser representado por uma informação pura e digitalizada. Já os sistemas peritos são técnicas ou competências profissionais ou especializadas, que organizam a vida social. Para assistir televisão, o telespectador não precisa saber como o sinal chega à sua casa, para a Estela (do curta de um minuto) aprender como utilizar o computador, ela não precisa saber como ele funciona internamente. Me deparei com os sistemas peritos em um texto lido para a aula de Teorias da Comunicação sobre a sociedade do espetáculo. Tomando como exemplo o nascimento da Sasha, filha de Xuxa, o autor considera sistemas peritos, os profissionais que cercavam a maternidade midiática, desde os porta-vozes aos médicos, cada um com sua competência profissional especializada organizando aquele evento.
Já Castells analisa as características da modernidade, a partir da sociedade em rede. O surgimento das novas tecnologias de informação propiciou a transição da sociedade industrial para uma sociedade em rede ou informacional. Essas novas tecnologias têm o papel de reestruturar o capitalismo. Diferente do capitalismo industrial, o capitalismo informacional se pauta na busca do conhecimento para produzir riquezas. Afirma que a modernidade se estabelece a partir dos espaços de fluxos e do tempo intemporal. Tanto o espaço quanto o tempo estão sendo transformados a partir do processo histórico e das tecnologias da informação. Usa como exemplo as cidades globais, que a partir da infraestrutura e das tecnologias, os centros produtivos e de consumo de serviços estão conectados em uma rede global. Os espaços estão sendo transformados pelos fluxos de informação, afetando diretamente os relacionamentos a partir de uma lógica de conexão e desconexão. Embora ainda se viva cronologicamente, o tempo linear está sendo fragmentado na sociedade em rede. A economia está organizada em torno de redes globais de capital, do gerenciamento e da informação, onde o acesso ao know how tecnológico é fundamental para a produtividade e competitividade. Podemos pensar no mercado brasileiro de televisão, a Globo, por exemplo, possui know how na área, principalmente nas produções das telenovelas, o padrão técnico e estético, e as tecnologias e profissionais capazes de produzir o padrão específico da emissora, o chamado “padrão de qualidade Globo”, é almejado e reproduzido por suas concorrentes.

Ricardo Vernieri disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Vernieri disse...

A relação entre espaço e tempo parece estar presente, e talvez seja o principal “amálgama” das transformações que ocorrem na sociedade contemporânea. Giddens e Castells abordam esta dimensão para fundamentar suas percepções sobre as mudanças no sistema social em que vivemos. Com a modernidade as relações sociais começaram a sofrer transformações, distanciando a relação espaço e tempo. O conceito de tempo e espaço ampliou-se e a imprensa, o telégrafo, o telefone, a internet e as demais inovações da tecnologia informacional ampliaram essas relações por meio do que Giddens define como desencaixe: “o deslocamento das relações sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação através de extensão indefinidas de tempo e espaço”. Este desencaixe se dá por duas vertentes (mecanismos): fichas simbólicas, mais especificamente o dinheiro, e sistemas peritos. Outro forte argumento que podemos utilizar para explicar as transformações no processo sócio-histórico de produção de riqueza é o conceito de sociedade em rede, desenvolvido por Manuel Castells, que de certa forma vem dar continuidade ao pensamento de Giddens em um contexto mais atual. Para Castells, a sociedade em rede desempenha um papel central na caracterização da sociedade na era da informação, onde a inovação, a globalização, a flexibilidade e a adaptabilidade proporcionam o surgimento de um conjunto de nós intercalados que formam a rede, podendo se desconectar e se reconectar com outras conexões a fim de garantir a sobrevivência do sistema.
No campo das indústrias da comunicação, a força do capitalismo informacional descrito por Castells ganha aspecto relevante, pois o fluxo de informação torna-se a peça-chave para a funcionalidade de todo o sistema social em rede, ou seja, é quase impossível estar desconectado (indivíduo e organizações). A indústria da comunicação passa a ser o espaço para a difusão, conversação e persuasão que viabiliza e acelera o desempenho da sociedade capitalista na era da informação, sendo um setor que também passa por grandes transformações devido às inovações tecnológicas da indústria da informação, como a digitalização de conteúdos e a convergência dos meios, fruto da metamorfose das relações de produção na sociedade informacional ocasionadas, em parte, pelos processos decorrentes da economia global: a produtividade (caracterizada pela inovação, competitividade e flexibilidade e a competitividade).
A sociedade informacional, por suas características de flexibilidade e adaptabilidade, favorece a formação de grandes grupos oligopolistas na área de comunicação que se interligam buscando atender aos interesses do capitalismo informacional.

Émerson disse...

Para Giddens, dentro do contexto da modernidade, os meios de comunicação trazem repetidas vezes os acontecimentos se tornando realidade, através dos mecanismos de desencaixe e reencaixe. Paralelamente, a ficha simbólica torna possível que relacionamentos sejam estabelecidos unicamente com base nela mesma. O dinheiro é um exemplo perfeito de ficha simbólica, que permite relações totalmente descontextualizadas, operando em torno dele. Já os sistemas peritos operam de uma forma de conduta que as pessoas possam operar coisas que elas não entendem como funcionam de fato. Pelo que pude entender, os meios de comunicação, e especialmente a televisão, através dos mecanismos de desencaixe e reencaixe constrói necessidades para o espectador. Muitas vezes estas necessidades levam o espectador a se tornar consumidor de coisas que ele sequer entende como funcionam, operadas por sistemas peritos, e esta necessidade só pode ser sanada através da utilização do dinheito, que é uma ficha simbólica instituída.

Entendo que Castells possui um ponto de vista bastante impregnado pela ideia de que as novas tecnologias tem papel fundamental na transformação da sociedade. Estas transformações ficam evidentes nas chamadas cidades globais, que são a concretização do conceito de espaço de fluxos apresentado pelo autor. Para o autor, os meios de comunicação concentram empreendimentos de grande porte e são um importante espaço de negociação de poder. Desta forma, os meios de comunicação acabam sendo fundamentais na organização da sociedade em termos econômicos, políticos, culturais e de poder.

João Martins Ladeira disse...

O conjunto de comentários é bastante interessante, mas acho que faltam algumas questões que nenhum de vocês conseguiu tratar. São temas não expostos diretamente na minha exposição e que, exatamente por isso, deveriam ter aparecido numa discussão complementar.
Com exceção de algum comentário aqui e ali, ninguém tratou sistematicamente do conceito de rede, forma de dominação e morfologia social capaz de impor imensa influência na sociedade contemporânea. Sua exata relação com o modo de desenvolvimento informacional não ficou clara: trata-se de um acidente histórico ou de uma necessidade funcional produzida por alguma racionalidade mais ampla?
Ao mesmo tempo, a lógica de operação de tais redes merecia mais atenção. Neste ponto os trabalhos de Giddens e Castells se conectam. Sabe-se que a operação de tais redes a partir da conexão de nós, possíveis de envolver mercados financeiros, redes de crime, organizações políticas ou os meios de comunicação, entre outros, as transforma nos “instrumentos privilegiados do poder”. Todavia, parece possível de perceber que a constituição das redes surge como instâncias especiais de reflexividade, traço essencial de “As Consequências da Modernidade”. Organizar tais atividades de modo flexível e aberto à reconfiguração parece ser uma inovação possível de obter exatamente através do esforço de contestar sistematicamente as bases através das quais a própria modernidade parece instituída, em busca constante de transformação. Afinal, o processo de contestação reflexiva da modernidade surge o mecanismo principal de um instante histórico pautado pela lógica das redes. A conexão entre tais pontos não foi nem ao menos considerada, por exemplo.
Ao mesmo tempo, Giddens trata sobre um conceito de confiança e risco que parece essencial para a constituição das fichas simbólicas e dos sistemas peritos. Ora, algumas das páginas mais interessantes dos textos de Castells versam sobre a descrição do processo através do qual o descolamento entre tempo e espaço procede através de redes capazes de manusear insumos com intenso grau de contingência. Mais uma vez, nenhum de vocês discutiu um tema caro a Castells, que poderia ilustrar o tema do risco/confiança de modo importante: os mercados financeiros globais. Afinal, as redes de Castells apontam para tal instância de modo privilegiado: é em seu movimento que toda a morfologia das redes se assenta. Mais uma vez, este ponto não aparece. Tem-se a impressão de que a leitura dos textos foi um pouco rápida e que vocês se contentaram apenas com a exposição em aula, o que não parece suficiente.

Bárbara Zilda Grebin disse...

A sociedade está passando pela Revolução do Conhecimento, período de transição em que o impacto da velocidade de propagação de informações, acelerada por redes de comunicação globais, como a Internet, é multidimensional e globalizante. Os efeitos da Era da Informação, explicados por Giddens pelo descolamento entre tempo e espaço e por Castells pela lógica de conexão e desconexão de elementos em rede, são sentidos em todas as esferas sociais, econômicas, políticas, culturais.
Durante a Revolução Industrial, a produção de riqueza era alcançada por meio da administração de recursos e acúmulo de excedentes; hoje, no período do "informacionalismo", conceito de Castells, a riqueza está no conhecimento, o que está causando mudanças nos modelos de negócio, que têm suas estruturas cada vez menos verticais e cada vez mais em rede. Esta nova realidade permite maior concentração de poder por grupos midiáticos, cuja credibilidade e profissionalismo são apontados por Castells como elementos fundamentais dessa nova estrutura.
Gilberto Gil, ao cantar sobre a Internet em seu vídeo "Banda Larga", afirma o conceito de sistemas peritos de Giddens, em que a plena compreensão do funcionamento técnico de uma tecnologia não é necessária para que haja o reconhecimento de sua importância para o desenvolvimento da sociedade e para que se deseje as consequências de tal tecnologia. Nos vídeos "Estela" e "Eu quero fazer um filme", os protagonistas representam uma forte tendência da sociedade informacional: o homem não ser somente passivo, mas também ser agente de mudança, apropriando-se das tecnologias. Todas essas produções audiovisuais reforçam características da sociedade pós-industrial, em que as tecnologias da informação, organizadas em rede, ditam a direção e a velocidade da nova economia.