Eu já tinha percebido em encontros de EPC e depois no livro do professor Bolaño, Indústria Cultural, Informação e Capitalismo, as diferenças entre a versão latinoamericana da EPC e da francesa, mas acredito que este artigo tenha me sido esclarecedor quanto à base destas diferenças.
Herscovici discorda também discorda dos teóricos que veêm na nova produção tecnológica a salvação do capitalismo, numa espécie de socialização da apropriação, quando, na verdade, pelo que lemos e ouvimos dos comentários, há uma produção coletiva apenas - com a ressalva feita pelo Bruno quanto a importantes conhecimentos restritors a grandes potências, como a indústria de fissão nuclear.
Vi neste texto, ao contrário do Tremblay, que Alain considera a fase atual como pós-industrial no sentido de que o valor-trabalho não teria mais condições de explicar o capitalismo; “o capitalismo não é intrinsicamente industrial”, dirá ele.
Mas aqui fica uma dúvida sobre o próprio contexto de Indústria Cultural como entendemos e vai ao encontro de um dos comentários do professor Valério: isso não seria conformação da mercadoria numa outra forma, sendo esta a cultural, uma transposição de bens simbólicos em bens econômicos, seguindo um modelo marxiano de valor de uso em valor de troca?
Ele aponta o capitalismo financeiro, em que há uma nova valoração do dinheiro, enquanto meio sem um referente na realidade; o capital dinheiro, num contexto especulativo. Ah, o próprio trabalhador passa a se preocupar com a produção de informação e comunicação, nalgo que interpretamos como algo para além da relação de trabalho clássica – até mesmo por não se tratar de foco industrial -, em que Alain aponta as aproximações entre serviço e mercado e, o principal, a valoração se daria através do conjunto de informações incluídas nas mercadorias, vide a diferença de valores entre hardwares e softwares.
O autor consegue demonstrar bem em termos textuais sua opinião e, confesso, que deixou este leitor cheio de dúvidas quanto às ideias referentes, em especial, à possibilidade de o valor-trabalho não poder explicar mais a atual fase do capitalismo, apesar de concordarmos que as relações estabelecidas através do capital financeiro, através desse “capital-dinheiro” sem referencial material, necessitar de estudos mais aprofundados e específicos, por se tratar do maior dos bens simbólicos em jogo no mercado, como bem apontou o Bruno, e que realmente se diferencia dos entendimentos anteriores de mercadoria.
Inicialmente, o texto fala em preço e valor. E "a desconexão da forma preço em relação ao valor". Atualmente, o preço pago por algo, já não diz valor a sua completude, enquanto mercadoria. Hoje não só a informação é produto, como é mercadoria. Assim, como se vendem softwares, sites de hospedagem, fórmulas, códigos binários. Paga-se também por este material. É a era do Capitalismo e da produção Imaterial. A partir disto, é discutido se as teorias do trabalho, elas continuam sendo fontes explicativas do Capitalismo? Segundo Alan, o Capitalismo não foi superado! É preciso encontrar novos conhecimento sobre o “novo” Capitalismo! Um conhecimento em processo coletivo! Atualmente, o capitalismo constrói formas de ação privada para os bens públicos! No capitalismo pós industrial, o valor de troca de uma mercadoria, depende do valor quantitativo e qualitativo de sua mercadoria. Todavia, mesmo com meios de produção cada vez mais socializados, a informação importante é sempre comercializada. Por isso cada vez mais, em nossa atual sociedade, é tudo cada vez mais descartável, pois o acúmulo de conhecimento se configura em pouco tempo em um novo produto, ainda mais interessante, mais moderno, mais tecnologico, e que já invalida o anterior. Levando o consumidor a adquirir novos softwares, aplicativos, e mesmo novas câmeras, computadores, e outros aparelhos. Portanto, a produção é socializada, mas a apropriação é privada! E as socializadas, viram desvio de sistema. O capitalismo deixou de ser um modo de produção, e tornou-se um sistema civilizatório.
As colocações deste ELO vem complementar o ELO 1, reafirmando o que o capitalismo não é um sistema superado, com a ressalva de que não se trata somente de um processo de produção, mas de um marco civilizatório que permeia o modo de viver da sociedade. Não há uma autodestruição, a essência do capitalismo ainda é a mesma, repaginada por um deslocamento e desvios do sistema em direção a sociabilização. O maior problema de se pensar na transformação (passagem) do trabalho abstrato a sua materialização, não só em produto (o que seria mais simples), mas em mercadoria e a questão da valoração dos elementos simbólicos que fazem atravessamentos em outros setores onde são diferenciais, um poder agregado. Mas, ao colocarmos essa produção como mercadoria, deveríamos prestar atenção às especificidades de cada um. A tecnologia é usufruída por outros modos de conhecimento e de acesso não hegemônico, onde a regra geral é a produção coletiva, mas amplia as possibilidades de acumulo de apropriação individual (privada). Nessa “visada” de um mercado capitalista transnacional, alguns setores são dominados por países específicos (centrais) enquanto outros relegados a segundo plano. O conhecimento como produto, quanto mais exclusivo e inacessível mais “ valioso”, como no caso de conhecimentos tecnológicos, de softwares, novos conceitos e que entram em questões éticas e sociais ligadas ao embate entre direito autoral e o saber coletivo. A questão que surge após essas “leituras” (textos e vídeos) é a necessidade urgente (já que novamente está colocada a velocidade das mudanças exigidas) de fomento de uma “produtividade autoral” que possa ser usada na coletivização e apropriação do conhecimento e dos produtos culturais sem a falência de suas perspectivas criativas e também, dos já falidos “criadores”.
No texto de Herscovici, fiquei com uma impressão semelhante à do Anderson quanto à afirmação do autor de que o capitalismo deixou, “pelo menos parcialmente, de ser industrial”. Ainda que a indústria cultural não traga consigo toda esta socialização da produção de conhecimento que se enxerga na sociedade da informação, a mercadoria produzida naquela é igualmente simbólica, e ainda assim mantemos o conceito de indústria para descrever esta fabricação de mercadorias culturais. A mercadoria persiste, e a apropriação é privada.
De qualquer forma, o texto tem muitos conceitos esclarecedores, embora eu particularmente tenha achado o início do artigo “pesado” por conta de ideias da área de economia que não me são de uso frequente. Uma das frases do autor que eu destacaria é “o valor de troca da mercadoria depende da quantidade e da qualidade da informação embutida na mercadoria", que eu considero uma declaração-chave na descrição da fase atual do capitalismo (o professor Valério comentou sobre isso na sua avaliação do texto). Outra frase que eu destacaria é “no capitalismo cognitivo, o conceito de trabalho abstrato é substituído pelo de conhecimento codificado, e o conceito de trabalho concreto pelo de conhecimento tácito” – que “é um elemento importante de valorização do capital."
A descrição de Herscovici sobre a produção de conhecimento e de inovação tecnológica a partir da teoria da cultura de Levy-Strauss (citada pelo professor Bruno na sua avaliação do texto), de que, a partir de determinado momento de maturação, a informação nova é produzida com base no acúmulo de informações do passado (história) e nas informações apropriadas de outras culturas/sociedades/contextos, considero relevante não só para os estudos que estamos fazendo sobre economia política do audiovisual, mas também para outros estudos no campo da comunicação.
Outro conceito interessante em Herscovici, que ele formula a partir de Braudel, é que capitalismo não é sinônimo de mercado , e que o mesmo só se desenvolve quando a lógica mercantil passa a prevalecer sobre todo o conjunto das atividades sociais (o capitalismo enquanto sistema, enquanto modo de vida). Para Herscovici, assim como para Tremblay, vivemos uma fase do capitalismo, que ainda não está superado. Uma diferença grande entre os dois autores é que o primeiro identifica esta fase do capitalismo como pós-industrial. Quanto aos vídeos, um link possível que eles fazem com o artigo é o de reforçar esta ideia de construção coletiva do conhecimento (Linux) em contraposição à ideia de indústria cultural/produção em série de uma mercadoria imposta à coletividade de espectadores/consumidores (Cérebro Eletrônico).
Sobre a abordagem do capitalismo feita no artigo por Herscovici, consegue-se observar certa linearidade cronológica na maneira como irá ser abordado toda a construção, consolidação e as mutações sofridas por este sistema. O sistema capitalista em si, abordado inicialmente como um termo moderno, originado na revolução industrial, explicitamente deixado pelo autor, sofre modificações com o passar do tempo, onde se emprega a questão do pós-industrial. Em sequencia com a transição do modelo e atravessar dos anos, décadas tem-se a fragmentação do sistema, o desgaste, quando o aparelho já se encontra bem reduzido e esgotado, a beira de um abismo, uma crise, aonde irá se fragmentar, reinventar-se e aí numa sacada do autor ele cola aquele termo da questão de “fluidez” que pelo termo já nos passa a ideia de algo que escorre, transcorre pela superfície, ou seja, já perdeu seu caráter sólido e resistente. Vale lembrar também outro termo que não se pode deixar passar batido seria o momento incerto, das incertezas, onde o capitalismo nos apresenta como uma bomba relógio, devido as inúmeras crises que se apresentam através da história. Enfim no presente vemos nações que entram em colapso, passam de credor a devedor, e desta maneira se invertem o quadro dos atores no poder, e a proposta colocada diante deste artigo incorpora os elementos culturais, sendo que na atualidade o mundo se tornou mais rápido, muita informação coexistindo e quando se vê o profissional não dá conta, algo acontece aqui e do outro lado do mundo das mais diversas maneiras dormem. Então a maneira como a tecnologia acompanha esse processo de evolução é quase como tornar o fato, o sujeito descartável, despreza muitas vezes, pois, capta instantes, aquilo se dá em questão de momentos, e pra dar conta do contexto são inseridos novos agentes e assim posteriormente.
No texto de Herscovici, fiquei com uma impressão semelhante à do Anderson quanto à afirmação do autor de que o capitalismo deixou, “pelo menos parcialmente, de ser industrial”. Ainda que a indústria cultural não traga consigo toda esta socialização da produção de conhecimento que se enxerga na sociedade da informação, a mercadoria produzida naquela é igualmente simbólica, e ainda assim mantemos o conceito de indústria para descrever esta fabricação de mercadorias culturais. A mercadoria persiste, e a apropriação é privada.
De qualquer forma, o texto tem muitos conceitos esclarecedores, embora eu particularmente tenha achado o início do artigo “pesado” por conta de conceitos econômicos que não são de uso tão frequente. Uma das frases do autor que eu destacaria é “o valor de troca da mercadoria depende da quantidade e da qualidade da informação embutida na mercadoria", que eu considero uma declaração-chave na descrição da fase atual do capitalismo (o professor Valério comentou sobre isso na sua avaliação do texto). Outra frase que eu destacaria é “no capitalismo cognitivo, o conceito de trabalho abstrato é substituído pelo de conhecimento codificado, e o conceito de trabalho concreto pelo de conhecimento tácito” – que “é um elemento importante de valorização do capital."
A descrição de Herscovici sobre a produção de conhecimento e de inovação tecnológica a partir da teoria da cultura de Levy-Strauss (citada pelo professor Bruno na sua avaliação do texto), de que, a partir de determinado momento de maturação, a informação nova é produzida com base no acúmulo de informações do passado (história) e nas informações apropriadas de outras culturas/sociedades/contextos, considero relevante não só para os estudos que estamos fazendo sobre economia política do audiovisual, mas também para outros estudos no campo da comunicação.
Outro conceito interessante em Herscovici, que ele formula a partir de Braudel, é de que capitalismo não é sinônimo de mercado , e que o mesmo só se desenvolve quando a lógica mercantil passa a prevalecer sobre todo o conjunto das atividades sociais (o capitalismo enquanto sistema, enquanto modo de vida). Para Herscovici, assim como para Tremblay, vivemos uma fase do capitalismo, que ainda não está superado. Uma diferença grande entre os dois autores é que Herscovici identifica esta fase do capitalismo como pós-industrial.
Quanto aos vídeos, um link possível que eles fazem com o artigo é o de reforçar esta ideia de construção coletiva do conhecimento (Linux) em contraposição à ideia de indústria cultural/produção em série de uma mercadoria imposta à coletividade de espectadores/consumidores (Cérebro Eletrônico).
A universalidade da forma dinheiro, a despeito do fato do capitalismo deixar de ser industrial é o tema central do texto de Herscovici. Sua discussão versa sobre um capital que se afirma como tal e que se identifica a partir da lógica rentista. Estes tópicos serão retomados em contraposição à discussão de Braudel sobre a economia material e o capitalismo. Antes disso, porém, Herscovici nos lembra da necessidade de estudar a natureza do trabalho imaterial: sua relevância se justifica pelo fato do valor de troca da mercadoria estar centrado intensamente na informação, transformando-se no elemento essencial de valorização. Se a lógica da informação ainda se refere diretamente a um tipo de trabalho que põe valor na mercadoria, são não apenas as relações quantitativas que importa discutir. Afinal, esta determinação quantitativa não se refere mais apenas à quantidade de trabalho socialmente necessário. O problema passa a ser a qualidade do conhecimento codificado, o que faz pensar na natureza do valor de uso, e não de troca, como elemento que define a valorização. Tal tema colocaria a discussão num nível curioso, ao se tentar associá-la aos pressupostos fundamentais da teoria do valor da qual Marx compartilhava. Os conhecimentos codificado e tácito levariam a definição do problema da mercadoria a um patamar distinto da contradição entre quantidade e qualidade que lhe dá equivalência e que estrutura a dinâmica de objetificação capaz de definir as relações econômicas. O problema da expansão dos serviços sobre o produto industrial surge como desdobramento óbvio neste sentido. O problema da expansão da velocidade do ciclo e da obsolescência das mercadorias opera no mesmo sentido. A questão da liquidez, elemento que retoma a discussão de Hilferding sobre o capital financeiro, aparece como terceiro tópico. A qualificação da crise econômica contemporânea como crise de liquidez, de fato, parece manter relação direta com a discussão de tal autor clássico. O tópico central, porém, é a discussão com Braudel, da qual se sente falta, em algum momento, de uma referência mais sistemática ao trabalho de Wallerstein.
8 comentários:
Eu já tinha percebido em encontros de EPC e depois no livro do professor Bolaño, Indústria Cultural, Informação e Capitalismo, as diferenças entre a versão latinoamericana da EPC e da francesa, mas acredito que este artigo tenha me sido esclarecedor quanto à base destas diferenças.
Herscovici discorda também discorda dos teóricos que veêm na nova produção tecnológica a salvação do capitalismo, numa espécie de socialização da apropriação, quando, na verdade, pelo que lemos e ouvimos dos comentários, há uma produção coletiva apenas - com a ressalva feita pelo Bruno quanto a importantes conhecimentos restritors a grandes potências, como a indústria de fissão nuclear.
Vi neste texto, ao contrário do Tremblay, que Alain considera a fase atual como pós-industrial no sentido de que o valor-trabalho não teria mais condições de explicar o capitalismo; “o capitalismo não é intrinsicamente industrial”, dirá ele.
Mas aqui fica uma dúvida sobre o próprio contexto de Indústria Cultural como entendemos e vai ao encontro de um dos comentários do professor Valério: isso não seria conformação da mercadoria numa outra forma, sendo esta a cultural, uma transposição de bens simbólicos em bens econômicos, seguindo um modelo marxiano de valor de uso em valor de troca?
Ele aponta o capitalismo financeiro, em que há uma nova valoração do dinheiro, enquanto meio sem um referente na realidade; o capital dinheiro, num contexto especulativo. Ah, o próprio trabalhador passa a se preocupar com a produção de informação e comunicação, nalgo que interpretamos como algo para além da relação de trabalho clássica – até mesmo por não se tratar de foco industrial -, em que Alain aponta as aproximações entre serviço e mercado e, o principal, a valoração se daria através do conjunto de informações incluídas nas mercadorias, vide a diferença de valores entre hardwares e softwares.
O autor consegue demonstrar bem em termos textuais sua opinião e, confesso, que deixou este leitor cheio de dúvidas quanto às ideias referentes, em especial, à possibilidade de o valor-trabalho não poder explicar mais a atual fase do capitalismo, apesar de concordarmos que as relações estabelecidas através do capital financeiro, através desse “capital-dinheiro” sem referencial material, necessitar de estudos mais aprofundados e específicos, por se tratar do maior dos bens simbólicos em jogo no mercado, como bem apontou o Bruno, e que realmente se diferencia dos entendimentos anteriores de mercadoria.
Inicialmente, o texto fala em preço e valor. E "a desconexão da forma preço em relação ao valor". Atualmente, o preço pago por algo, já não diz valor a sua completude, enquanto mercadoria. Hoje não só a informação é produto, como é mercadoria. Assim, como se vendem softwares, sites de hospedagem, fórmulas, códigos binários. Paga-se também por este material. É a era do Capitalismo e da produção Imaterial. A partir disto, é discutido se as teorias do trabalho, elas continuam sendo fontes explicativas do Capitalismo?
Segundo Alan, o Capitalismo não foi superado! É preciso encontrar novos conhecimento sobre o “novo” Capitalismo! Um conhecimento em processo coletivo! Atualmente, o capitalismo constrói formas de ação privada para os bens públicos!
No capitalismo pós industrial, o valor de troca de uma mercadoria, depende do valor quantitativo e qualitativo de sua mercadoria.
Todavia, mesmo com meios de produção cada vez mais socializados, a informação importante é sempre comercializada. Por isso cada vez mais, em nossa atual sociedade, é tudo cada vez mais descartável, pois o acúmulo de conhecimento se configura em pouco tempo em um novo produto, ainda mais interessante, mais moderno, mais tecnologico, e que já invalida o anterior. Levando o consumidor a adquirir novos softwares, aplicativos, e mesmo novas câmeras, computadores, e outros aparelhos. Portanto, a produção é socializada, mas a apropriação é privada! E as socializadas, viram desvio de sistema. O capitalismo deixou de ser um modo de produção, e tornou-se um sistema civilizatório.
William Mayer
As colocações deste ELO vem complementar o ELO 1, reafirmando o que o capitalismo não é um sistema superado, com a ressalva de que não se trata somente de um processo de produção, mas de um marco civilizatório que permeia o modo de viver da sociedade. Não há uma autodestruição, a essência do capitalismo ainda é a mesma, repaginada por um deslocamento e desvios do sistema em direção a sociabilização. O maior problema de se pensar na transformação (passagem) do trabalho abstrato a sua materialização, não só em produto (o que seria mais simples), mas em mercadoria e a questão da valoração dos elementos simbólicos que fazem atravessamentos em outros setores onde são diferenciais, um poder agregado. Mas, ao colocarmos essa produção como mercadoria, deveríamos prestar atenção às especificidades de cada um.
A tecnologia é usufruída por outros modos de conhecimento e de acesso não hegemônico, onde a regra geral é a produção coletiva, mas amplia as possibilidades de acumulo de apropriação individual (privada). Nessa “visada” de um mercado capitalista transnacional, alguns setores são dominados por países específicos (centrais) enquanto outros relegados a segundo plano. O conhecimento como produto, quanto mais exclusivo e inacessível mais “ valioso”, como no caso de conhecimentos tecnológicos, de softwares, novos conceitos e que entram em questões éticas e sociais ligadas ao embate entre direito autoral e o saber coletivo. A questão que surge após essas “leituras” (textos e vídeos) é a necessidade urgente (já que novamente está colocada a velocidade das mudanças exigidas) de fomento de uma “produtividade autoral” que possa ser usada na coletivização e apropriação do conhecimento e dos produtos culturais sem a falência de suas perspectivas criativas e também, dos já falidos “criadores”.
No texto de Herscovici, fiquei com uma impressão semelhante à do Anderson quanto à afirmação do autor de que o capitalismo deixou, “pelo menos parcialmente, de ser industrial”. Ainda que a indústria cultural não traga consigo toda esta socialização da produção de conhecimento que se enxerga na sociedade da informação, a mercadoria produzida naquela é igualmente simbólica, e ainda assim mantemos o conceito de indústria para descrever esta fabricação de mercadorias culturais. A mercadoria persiste, e a apropriação é privada.
De qualquer forma, o texto tem muitos conceitos esclarecedores, embora eu particularmente tenha achado o início do artigo “pesado” por conta de ideias da área de economia que não me são de uso frequente. Uma das frases do autor que eu destacaria é “o valor de troca da mercadoria depende da quantidade e da qualidade da informação embutida na mercadoria", que eu considero uma declaração-chave na descrição da fase atual do capitalismo (o professor Valério comentou sobre isso na sua avaliação do texto). Outra frase que eu destacaria é “no capitalismo cognitivo, o conceito de trabalho abstrato é substituído pelo de conhecimento codificado, e o conceito de trabalho concreto pelo de conhecimento tácito” – que “é um elemento importante de valorização do capital."
A descrição de Herscovici sobre a produção de conhecimento e de inovação tecnológica a partir da teoria da cultura de Levy-Strauss (citada pelo professor Bruno na sua avaliação do texto), de que, a partir de determinado momento de maturação, a informação nova é produzida com base no acúmulo de informações do passado (história) e nas informações apropriadas de outras culturas/sociedades/contextos, considero relevante não só para os estudos que estamos fazendo sobre economia política do audiovisual, mas também para outros estudos no campo da comunicação.
Outro conceito interessante em Herscovici, que ele formula a partir de Braudel, é que capitalismo não é sinônimo de mercado , e que o mesmo só se desenvolve quando a lógica mercantil passa a prevalecer sobre todo o conjunto das atividades sociais (o capitalismo enquanto sistema, enquanto modo de vida). Para Herscovici, assim como para Tremblay, vivemos uma fase do capitalismo, que ainda não está superado. Uma diferença grande entre os dois autores é que o primeiro identifica esta fase do capitalismo como pós-industrial. Quanto aos vídeos, um link possível que eles fazem com o artigo é o de reforçar esta ideia de construção coletiva do conhecimento (Linux) em contraposição à ideia de indústria cultural/produção em série de uma mercadoria imposta à coletividade de espectadores/consumidores (Cérebro Eletrônico).
Luciano Gallas
Sobre a abordagem do capitalismo feita no artigo por Herscovici, consegue-se observar certa linearidade cronológica na maneira como irá ser abordado toda a construção, consolidação e as mutações sofridas por este sistema. O sistema capitalista em si, abordado inicialmente como um termo moderno, originado na revolução industrial, explicitamente deixado pelo autor, sofre modificações com o passar do tempo, onde se emprega a questão do pós-industrial. Em sequencia com a transição do modelo e atravessar dos anos, décadas tem-se a fragmentação do sistema, o desgaste, quando o aparelho já se encontra bem reduzido e esgotado, a beira de um abismo, uma crise, aonde irá se fragmentar, reinventar-se e aí numa sacada do autor ele cola aquele termo da questão de “fluidez” que pelo termo já nos passa a ideia de algo que escorre, transcorre pela superfície, ou seja, já perdeu seu caráter sólido e resistente. Vale lembrar também outro termo que não se pode deixar passar batido seria o momento incerto, das incertezas, onde o capitalismo nos apresenta como uma bomba relógio, devido as inúmeras crises que se apresentam através da história. Enfim no presente vemos nações que entram em colapso, passam de credor a devedor, e desta maneira se invertem o quadro dos atores no poder, e a proposta colocada diante deste artigo incorpora os elementos culturais, sendo que na atualidade o mundo se tornou mais rápido, muita informação coexistindo e quando se vê o profissional não dá conta, algo acontece aqui e do outro lado do mundo das mais diversas maneiras dormem. Então a maneira como a tecnologia acompanha esse processo de evolução é quase como tornar o fato, o sujeito descartável, despreza muitas vezes, pois, capta instantes, aquilo se dá em questão de momentos, e pra dar conta do contexto são inseridos novos agentes e assim posteriormente.
Fernando S. D. Neto
No texto de Herscovici, fiquei com uma impressão semelhante à do Anderson quanto à afirmação do autor de que o capitalismo deixou, “pelo menos parcialmente, de ser industrial”. Ainda que a indústria cultural não traga consigo toda esta socialização da produção de conhecimento que se enxerga na sociedade da informação, a mercadoria produzida naquela é igualmente simbólica, e ainda assim mantemos o conceito de indústria para descrever esta fabricação de mercadorias culturais. A mercadoria persiste, e a apropriação é privada.
De qualquer forma, o texto tem muitos conceitos esclarecedores, embora eu particularmente tenha achado o início do artigo “pesado” por conta de conceitos econômicos que não são de uso tão frequente. Uma das frases do autor que eu destacaria é “o valor de troca da mercadoria depende da quantidade e da qualidade da informação embutida na mercadoria", que eu considero uma declaração-chave na descrição da fase atual do capitalismo (o professor Valério comentou sobre isso na sua avaliação do texto). Outra frase que eu destacaria é “no capitalismo cognitivo, o conceito de trabalho abstrato é substituído pelo de conhecimento codificado, e o conceito de trabalho concreto pelo de conhecimento tácito” – que “é um elemento importante de valorização do capital."
A descrição de Herscovici sobre a produção de conhecimento e de inovação tecnológica a partir da teoria da cultura de Levy-Strauss (citada pelo professor Bruno na sua avaliação do texto), de que, a partir de determinado momento de maturação, a informação nova é produzida com base no acúmulo de informações do passado (história) e nas informações apropriadas de outras culturas/sociedades/contextos, considero relevante não só para os estudos que estamos fazendo sobre economia política do audiovisual, mas também para outros estudos no campo da comunicação.
Outro conceito interessante em Herscovici, que ele formula a partir de Braudel, é de que capitalismo não é sinônimo de mercado , e que o mesmo só se desenvolve quando a lógica mercantil passa a prevalecer sobre todo o conjunto das atividades sociais (o capitalismo enquanto sistema, enquanto modo de vida). Para Herscovici, assim como para Tremblay, vivemos uma fase do capitalismo, que ainda não está superado. Uma diferença grande entre os dois autores é que Herscovici identifica esta fase do capitalismo como pós-industrial.
Quanto aos vídeos, um link possível que eles fazem com o artigo é o de reforçar esta ideia de construção coletiva do conhecimento (Linux) em contraposição à ideia de indústria cultural/produção em série de uma mercadoria imposta à coletividade de espectadores/consumidores (Cérebro Eletrônico).
Luciano Gallas
A universalidade da forma dinheiro, a despeito do fato do capitalismo deixar de ser industrial é o tema central do texto de Herscovici. Sua discussão versa sobre um capital que se afirma como tal e que se identifica a partir da lógica rentista. Estes tópicos serão retomados em contraposição à discussão de Braudel sobre a economia material e o capitalismo. Antes disso, porém, Herscovici nos lembra da necessidade de estudar a natureza do trabalho imaterial: sua relevância se justifica pelo fato do valor de troca da mercadoria estar centrado intensamente na informação, transformando-se no elemento essencial de valorização. Se a lógica da informação ainda se refere diretamente a um tipo de trabalho que põe valor na mercadoria, são não apenas as relações quantitativas que importa discutir. Afinal, esta determinação quantitativa não se refere mais apenas à quantidade de trabalho socialmente necessário. O problema passa a ser a qualidade do conhecimento codificado, o que faz pensar na natureza do valor de uso, e não de troca, como elemento que define a valorização. Tal tema colocaria a discussão num nível curioso, ao se tentar associá-la aos pressupostos fundamentais da teoria do valor da qual Marx compartilhava. Os conhecimentos codificado e tácito levariam a definição do problema da mercadoria a um patamar distinto da contradição entre quantidade e qualidade que lhe dá equivalência e que estrutura a dinâmica de objetificação capaz de definir as relações econômicas. O problema da expansão dos serviços sobre o produto industrial surge como desdobramento óbvio neste sentido. O problema da expansão da velocidade do ciclo e da obsolescência das mercadorias opera no mesmo sentido. A questão da liquidez, elemento que retoma a discussão de Hilferding sobre o capital financeiro, aparece como terceiro tópico. A qualificação da crise econômica contemporânea como crise de liquidez, de fato, parece manter relação direta com a discussão de tal autor clássico. O tópico central, porém, é a discussão com Braudel, da qual se sente falta, em algum momento, de uma referência mais sistemática ao trabalho de Wallerstein.
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