quinta-feira, 8 de abril de 2010


Considerando o material lido, refletido, exposto e analisado, o que implica em identificar algum grau de mudança histórica nos planos cultural-comunicacional, econômico e político, a proposta é de reflexão sobre a produção e a distribuição do audiovisual na contemporaneidade, considerando as condições da população brasileira (de carências e, correlatamente, de potencial criativo) e a centralidade midiática nas atuais formações sociais (independentemente da denominação dada a este período histórico, que, de qualquer forma, relaciona-se com o papel da informação, da comunicação e do conhecimento nas dinâmicas sócio-econômicas). Diante disso, questiona-se: tendo em vista os marcos conceituais trabalhados neste encontro e ao longo da disciplina, como desenvolver processos de inclusão digital (acesso e participação) num país como o Brasil, reconhecendo-se o audiovisual como conteúdo essencial das novas mídias e mesmo a importância da imagem na sociedade?

17 comentários:

Economia Política do Audiovisual disse...

Acredito que os trabalhos foram muito esclarecedores em suas problematizações e gostaria de levantar a seguinte problemática;
Como a internet é um meio de comunhão internacional, com expressões individuais, até onde a produção e apropriação do conhecimento em larga escala entre todos não refletiria um primeiro passo a uma sociedade socialista.Mesmo que o conhecimento produzido vem a ser um produto de valor capital, questiono até onde este conhecimento estaria indisponível as áreas mais afastadas de seus pólos produtores, pela própria estrutura de reprodução técnica.
Hoje os softwares de produção audiovisual são facilmente encontrados em programas de p2p (emule, kazaa, torrent, etc), assim como permite uma democratização na exibição de trabalhos (portalcurta.com, emovie.com, youtube, etc), comercialização e até mesmo aprendizado (total training, gnome, etc).As maquinas para utilizar estes programas são relativamente baratas e de fácil acesso aos interessados.

André Campos

Carine Prevedello disse...

A centralidade do audiovisual na mediação simbólica é tão socialmente reconhecida que até mesmo o governo federal institucionalizou em 2007 a TV Brasil. É um avanço concreto na tentativa de criar um canal de representação nacional.
O acesso à internet cresce (IBGE, quase 80% ano ano), e o maior índice é entre as camadas menos favorecidas economicamente. Portanto, o acesso à web já está sendo democratizado, ainda que não de forma ideal.
Os meios para a produção audiovisual popularizam-se gradativamente, encontrando um espaço privilegiado de circulação na internet, que já modifica as formas de fruição dos demais veículos/ formatos de comunicação.
Em função de todos esss fatores, o padrão tecno-estético é permanentemente tensionado, flexibilizado, mas as barreiras à entrada ainda são importantes nos meios concentradores de audiência.

Acredito em dois movimentos interligados:
- compromisso político
- instrumentalização do público
Pode soar idealista ou sectário, mas somente com demarcações legais (a exemplo da legislação que regrará o SBTVD, ou mesmo de formulações em andamento para a internet), o espaço para a produção audiovisual alternativa e a democratização de acesso estarão assegurados.
Para que as pessoas saibam interpretar e usar os meios a seu favor, seja como reapropriação ou produção própria, é preciso oferecer órgãos de participação, crítica, controle social dos conteúdos, e formas de aprendizado comunitário.
A implantação da TV digital, especialmente, por estar em fase de estruturação, deveria obedecer a um rígido controle social, para que os canais públicos tenham prioridade, e os privados não permaneçam como detentores privilegiados e permanentes de espaço público, a exemplo do que já acontece na Tv aberta.

Carine Prevedello

Eduardo Silveira de Menezes disse...

A meu ver, a questão do marco regulatório na internet é central no debate sobre a produção e distribuição de conteúdos audiovisuais nos dias de hoje.

Essa discussão ganhou evidência com o projeto de lei sobre cibercrimes, proposto pelo senador Eduardo Azeredo, que chegou a ser aprovado pelo senado em 2008 e ficou conhecido como AI-5 digital.

Como se sabe, a proposta criminalizava práticas comuns de usuários na rede, entre elas o compartilhamento de arquivos e a cópia para divulgação de textos de uma publicação on-line, como é de praxe que se faça nos blogs.

Atualmente a discussão sobre a regulamentação da internet está sendo feita na Câmara de Deputados e, a partir da polêmica criada por esse projeto, o governo passou a discutir com mais ênfase o marco regulatório, principalmente sob o ponto de vista dos direitos autorais e da prática coletiva e compartilhada de conhecimento.

No entanto, parece-me, que só será possível pensar em um marco civil capaz de assegurar o direito a comunicação na internet se forem valorizadas as trocas simbólicas e a livre produção de conteúdos na rede.

Mais do que priorizar o direito dos usuários, acredito que a legislação para a internet deve ser capaz de inserir novos atores no processo de construção da informação e difusão de conteúdos.

Sendo assim, a tecnologia precisa estar a serviço do conjunto da população para que os movimentos sociais se apropriem dos espaços de produção de conteúdo digital e concorram para novas perspectivas de luta política.

Na verdade, à esteira do processo de evolução do capitalismo encontram-se os novos atores políticos, que, aproveitando-se das brechas do sistema, protagonizam novas experiências audiovisuais.

Fazendo uso das ferramentas de produção e distribuição de conteúdo disponibilizadas pela internet, os movimento sociais apresentam uma nova perspectiva política de construção da realidade e da sua própria imagem, ao contraporem-se aos oligopólios da comunicação.

Assim, pode-se considerar que a fase pós-industrial do processo de construção do conhecimento mesmo cercada pela lógica privada, a qual dificulta a apropriação social das tecnologias da informação e comunicação (TICS), não impede a proliferação de novas experiências no campo da comunicação alternativa, através da Web.

É importante ressaltar que o marco regulatório para a internet, que está sendo discutido pelo governo será decisivo no futuro da inclusão digital no Brasil e a participação da sociedade neste debate é fundamental para assegurar a democratização da cultura e do conhecimento, fundamentos essenciais para construção de uma nova sociedade da informação.

Eduardo Silveira de Menezes

Unknown disse...

Parte (1)

Na contemporaneidade, a multiplicidade de plataformas, aliada à tecnologia e às diversas possibilidades oferecidas pela digitalização, tem resultado numa reconfiguração das formas de produção e distribuição dos bens (tangíveis e intangíveis) geridos pelo campo da Comunicação. Nesta direção segue o texto de Tremblay, que não considera a sociedade da informação como uma ruptura no sistema capitalista, mas sim uma etapa evolutiva do mesmo. Conforme o autor, o setor industrial passaria a pertencer às economias de segunda ordem ou segundo plano, cabendo às empresas de produção e tratamento da informação a posição de integrar as sociedades industriais avançadas. Castells é criticado por enaltecer um pensamento determinista-tecnológico deste novo paradigma. Nesta direção, defende-se que a tecnologia seria a sociedade; não sendo a própria sociedade representada ou entendida pela tecnologia. Para complementar sua conclusão, o autor acerca-se de um discurso ideológico, que estaria impregnado no determinismo tecnológico. No texto que diz respeito às considerações de Herscovici, o autor contextualiza o que denomina de “teoria de valor de trabalho”. O valor em questão estabeleceria relação direta com a informação agregada ao produto; este, por sua vez, repassado ao consumidor final. Na atual fase do capitalismo, as distintas modalidades de trabalho deixariam de ser elementos explicativos dos processos de criação e de apropriação de valor, acrescendo sobre a modificação da natureza do capital. Há uma transformação do trabalho cultural, sem sombra de dúvida, que transcende o trabalho concreto para o abstrato. No âmbito da circulação, concordo com o autor, em suas considerações sobre as cifras dos trabalhos de comunicação, que deixam de ser estipulados pelos valores de produção. Para contextualizar o capitalismo contemporâneo, Herscovici recorre a apontamentos históricos dos trabalhos de Braudel. Por fim, contextualiza os Direitos de Propriedade Intelectual, analisando-os como ilegítimos da maneira como são apresentados. No terceiro texto, Borges legitima o interesse pela chamada propriedade intelectual, tema que revigora a discussão sobre fluxo livre da informação. Nesta direção, a autora aloca a questão do “copyright” para o centro de sua análise, transcorrendo especialmente sobre direito autoral e licenciamento, para enfim alcançar a questão das patentes. O ápice da reflexão proposta por Borges dá-se no âmbito da ciberciência, plataforma que está transformando as regras da propriedade intelectual ao gerar impedimentos para a seqüência da inovação capitalista. Por outro lado, nichos de mercado – como o próprio ambiente acadêmico –, se contrapõem a esta questão, demonstrando que a livre circulação de publicações científicas carece de novas regras de difusão.

Unknown disse...
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Unknown disse...

Parte (2)

Assim, entende-se como alternativo todo audiovisual que, apesar da existência de variáveis, afasta-se dos padrões hegemônicos. Por seu baixo custo, muitas vezes tem sido sinônimo de produção caseira ou amadora, como o audiovisual produzido por usuários da internet, a partir de softwares gratuitos com plataformas amigáveis. Seus diversos formatos diferem-se esteticamente, com alto grau de experimentação e alguma inovação. Via de regra não visa lucratividade, além de tencionar conteúdos de cunho educacional, temas não desenvolvidos pela grande mídia, manifestação de diferentes tribos, etc. Ainda que a internet seja seu principal meio de distribuição, também se compreende como alternativo o audiovisual produzido por comunidades e pequenos grupos. Desde os anos 90, os equipamentos digitais de captação de som e imagem têm colaborado para o ampliamento da produção alternativa no Brasil. Nesta direção, este segmento é também relacionado como um avanço, que ainda se estende aos canais comunitários e de acesso público. Ainda, há a compreensão de que a própria TV se encontra em fase de expansão. Gerador de diferentes modos de produção, distribuição e consumo, o avanço tecnológico representa um desafio para os tradicionais agentes hegemônicos, no âmbito da renovação de seus protótipos produtivos, diversificação da modalidade de negócios e projeção de diferentes estratégias, frente à elevação concorrencial ocasionada pela aproximação de atores midiáticos emergentes.

Andres Kalikoske

Marlon disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marlon disse...

Um questionamento que para mim ficou latente entre os textos do Gaëtan Trembley e do Alain Herscovici, fazendo uma relação com a posição do Gilberto Gil sobre os direitos autorais é de que da mesma forma que a sociedade da informação é uma evolução e não um momento de ruptura do capitalismo moderno, a questão da apropriação de bens culturais pelo coletivo também é uma forma de evolução das trocas simbólicas na citada Sociedade da Informação.
A SI e (acredito eu) sua representação mais expressiva a internet, nos apresentam situações concretas de como o processo de produção e difusão de materiais simbólicos está passando por um momento de mudanças, destaco o caso escolhido pelos professores da Linux que já à vinte anos vem trabalhando com o conceito de fonte aberta e trabalho colaborativo em rede.
Esses conceitos são fundamentais para que possamos pensar uma forma de trabalhar a inclusão digital no Brasil, acredito que os softwares disponobilizados gratuitamente como o projeto Open Office, as fontes de informação alternativas como blogs e até mesmo uma participação mais ativa dos usuários tem o potencial de incluir digitalmente parcelas de nossa sociedade que não tem essa possibilidade. Entretanto, tudo isso só é possível atráves de marcos regulatórios e politicas públicas que possam dar conta desse paradoxo de nossa sociedade moderna que ao mesmo tempo que estamos no auge tecnológico, encontramos as mais abissais desigualdades em nossa sociedade.

Marlon Sandro Lesnieski

Bia disse...

O Brasil se caracteriza por um capitalismo ainda dependente, controlado por grandes corporações em diversos setores. No caso em que interessa destacar neste momento, são os oligopólios que controlam os fluxos das informações que são veiculadas nos meios de comunicação da indústria cultural, ou seja, o rádio, a TV e o jornal.

Nesse sentido, se faz necessária uma pequena contextualização das conseqüências que esse cenário traz para a vida cotidiana e sua implicação em um processo de inclusão digital. Por se caracterizar por esse capitalismo dependente, que atua na lógica da exploração e que tem em seu cerne a divisão da sociedade em classes sociais, é fundamental pensar em uma transformação em nível sistêmico antes de se pensar em atuar na transformação em direção a democratização do acesso a informação e a cultura. Compreendo, portanto, que é necessário pensar na direção do que nos coloca Mészáros (2009), quando afirma que se deve romper com a lógica do capital, em um movimento que ultrapasse os limites do sistema sócio-metabólico do capital, constituído no tripé capital, trabalho assalariado e Estado. Esse cenário apresentado por Mészáros, faz compreender porque nem toda a sociedade tem acesso ao digital e porque os setores da comunicação são controlados por esses oligopólios.

Nesse sentido, as contribuições do professor Gaëtan Tremblay e do economista Alain Herscovici são importantes para problematizar o conceito de Sociedade da Informação. Eles acreditam que a SI não significa uma ruptura no sistema sócio-metabólico do capital, ou seja, na sua essência. O que ocorre são transformações ou renovações no caráter explorador do sistema. Nesse sentido, tendo a acreditar que se enxerga claramente uma reorganização do capital em torno do setor financeiro, o qual se caracteriza por uma desconexão do setor produtivo. Dessa forma, os capitalistas deixam de investir no setor produtivo para se voltarem para o mercado financeiro.

Entretanto, percebe-se cada vez mais a importância da informação na complexificação da sociedade. Ou seja, há uma certa autonomização do desenvolvimento tecnológico da informação que determina, muitas vezes, de que forma as pessoas terão acesso a ela e de forma os indivíduos se relacionam e se comunicam.

Também é importante ressaltar que no atual estágio da sociedade, seja ela denominada SI ou sociedade pós-industrial, há um aprofundamento da lógica de exploração do conhecimento. Além da crescente apropriação do conhecimento público pelo privado, há aquilo que Herscovici chama de Direitos de Propriedade Intelectual. Para ele, os DPI fazem a escassez do conhecimento enquanto o capital material é abundante, ou seja, as condições tecnológicas são substanciais.

Por fim, se compreende que só é possível um processo de inclusão digital – tendo no conteúdo audiovisual um fator primordial – levando-se em consideração as questões políticas e econômicas da sociedade e também em uma nova reconfiguração das relações sociais, hoje intermediadas por processos de midiatização. O que se coloca, portanto, é a necessidade de uma ruptura substancial com o capital e uma problematização da sociedade atual para se chegar à democratização do acesso ao digital.

Bianca Elisa da Costa

1215 disse...

A questão da inclusão digital no Brasil é um assunto delicado. O Governo tem o plano de levar banda larga aos brasileiros até 2014. Segundo a Folha Online, o valor necessário para isso seria de R$ 75,5 bilhões. Apesar de nosso país ter um crescimento grande neste mercado, estamos longe do que seria o ideal. A banda larga atualmente consumida é disponível nos estados da região sudeste e sul. Seguindo o paradigma de desenvolvimento nacional e mesmo assim a grande maioria dos consumidores utiliza 1 mega ou menos. Lembrando que estes consumidores pagam para ter esse acesso.
Para que haja uma distribuição de conteúdos através de audiovisual é necessário que a banda larga que irá incluir os brasileiros de menor renda permita que sejam realizados os downloads de grandes tamanhos.
Considerando que partes dos objetivos de levar banda larga aos brasileiros sejam atingidos, devemos observar como ela será apropriada por eles, como o governo utilizará isso como ferramenta eleitoral e como o mercado se comportará em termos de consumo? Ou seria apenas como foi feita com a eletricidade, telefonia, leva-se para a grande maioria, cria-se a infra-estrutura e depois se privatiza? A lógica do capitalismo se manterá.

Economia Política do Audiovisual disse...

André, o problema é de controle. Qualquer sociedade de tipo “socialista” implica em “socialização” de meios, sejam estes de produção, de codificação de sentidos, de plataformas...e, obviamente, a institucionalização de mecanismos de participação diretos e indiretos. Podemos afirmar sem sombra de dúvida que as sociedades de Capitalismo de Estado (cuja ironia cruel chama de socialismo REAL) não socializaram meios em nenhum aspecto, nestes lugares apenas se melhorou (e bem) a distribuição de riquezas consideradas essenciais pelos dirigentes da fusão partido-empresas-Estado.
Nos dias atuais, a possibilidade de profusão de bens simbólicos e produção disseminada não rompem com a concentração dos capitais de tipo império midiático, apenas abre a possibilidade de um “novo” negócio através do uso e desenvolvimento das TICs. Vamos supor, a partir de sua afirmação, como seria esse primeiro passo. Bem, este se dá justamente no controle dos meios. No momento atual, a grande parte dos programas que tu mencionastes tem DPIs; as plataformas e infovias pertencem a transnacionais, o tráfego de informação circula por redes de tipo privada ou estatal-privada e os registros ficam armazenados em instalações físicas e virtuais de tipo privado. Assim, podemos nos aproximar de uma compreensão. Que as possibilidades múltiplas de produção e trocas de bens simbólicos estão sob controle de propriedade, portanto de DPI, das empresas controladoras dos canais por onde circulam estes mesmos bens.

Economia Política do Audiovisual disse...

Oi Carine, para evitar a repetição, posso te afirmar que o problema é a incorporação das gramáticas do audiovisual, tanto para sua leitura crítica como para a realização. Nesse sentido, a popularização dos gêneros dessa mídia não é concomitante ao aumento da capacidade cognitiva e de um “léxico” ampliado. Isso não se resolve em menos de uma geração inteira (20 anos) e não se atenua em menos de uma década. O lócus institucional por excelência seria a escola de turno integral, cujo contra turno poderia ter como base as atividades complementares ao ensino elevado ao status de formal. Uma vez que os equipamentos são baratos e os aprendizados podem ser quase intuitivos, a sua execução depende de políticas públicas (universais) e não de amostragem com nome de políticas públicas (via projetos e editais).
Já no caso do SBTVD, aí é questão de Estado e soberania clássicos. Pelo mesmo argumento da incorporação do padrão japonês, não teríamos exploração de petróleo em solo e águas brasileiras e jamais teríamos a condição para a industrialização entre o pós-2ª Guerra e 1980.

Economia Política do Audiovisual disse...

Eduardo, tal e como venho afirmando, para evitar a redundância, vou além de tua observação, mesmo porque eu concordo com o que você disse. Além do marco regulatório, a discussão no país é falha porque associa internet somente com os usuários individuais. Além disso, o tema da universalização dos serviços de banda larga não passa por uma ação de Estado no sentido do direito da população. O acesso universal é parte da negociação de um modelo de negócios, onde há um intento de acerto entre a União e as ofertas de serviços pelas empresas de telecomunicações (concessionárias de serviço público). Como se sabe, temos, dentre os países industrializados, uma das internets mais caras e lentas do mundo.

Economia Política do Audiovisual disse...

Andres, tentando não me repetir, eu entendo que a lógica de agregação no capitalismo contemporâneo implica na adesão de seus símbolos, no uso das marcas e na conexão integradora entre telecomunicações, comunicação social, infovias, redes sócio-digitais secundárias e todos estes espaços como avenidas de grande circulação para os bens simbólicos do capitalismo, a começar pelos produtos de maior rentabilidade atual, os produtos de tipo commodity financeira. O determinismo econômico encontra-se nas raízes da própria teoria marxista, quando estabelece a analogia de infra-estrutura determinante e super-estrutura determinada. O novo determinismo é a versão que adere às novas tecnologias é a que as confunde com a própria sociedade, constitutiva da esfera societária, que é resultante de distintas relações de força interdependentes. Todos nós compreendemos que isto é uma visão acrítica e falsificável, mas por quê? De minha parte, gostaria de ver essa justificação. No comentário que fiz para o André respondo a este mesmo tema.

Economia Política do Audiovisual disse...

Marlon, eu concordo contigo no sentido que os intercâmbios e compartilhamentos de conteúdo pode ser uma nova forma de realização de trocas simbólicas sem necessariamente termos uma analogia de quantificação ou de valor monetário para as mesmas. Na parte intrínseca das trocas (o que se troca), aí entendo que não temos uma transformação. Muda-se como se troca, mas não o que está sendo trocado. Isto eu afirmo diante do grande uso da internet no Brasil, e segundo dados do Latino-Barômetro, repete-se como padrão por toda a América Latina: relações banais, sexo trivial, coisificação dos corpos, objetivação dos relacionamentos (parâmetros de medição comparativos mesmo quando se trata de afeto) e circulação dos produtos mais banais da indústria cultural (reprodução da cultura das celebridades, música pop empacotadas, vídeos de usos e costumes do cotidiano, o bizarro sem noção, futebol e outras atividades de massa e assim vai).
Manter o ambiente de trocas implica garantir os conteúdos de tipo livre e investir pesado em plataforma de uso e manutenção pública, como acesso através de antenas wimax em bases municipais ou consorciadas por municípios vizinhos e uma educação para as novas mídias como ferramentas de trabalho escolar e acesso a informação. Já a interpretação da informação depende necessariamente do hábito de leitura e do domínio de conceitos-chave que ultrapassem o senso comum. Do contrário, em essência, as relações e usos não mudam.

Economia Política do Audiovisual disse...

Oi Bianca, três comentários apenas. Primeiro, não há como pensar em lutas específicas apenas após uma transformação geral porque isso é incorrer novamente no erro teórico (partindo da premissa que a hipótese é de ruptura com a essência do sistema capitalista) de imaginar que exista uma determinância e não uma simultaneidade de lutas. Qualquer mudança no sentido romper com aspectos intrínsecos do capitalismo, seja na sua forma de produção de bens materiais ou simbólicos, seja no avanço da marketização das estruturas e comoditização dos saberes e atividades, por mais parcial que esta seja, colabora para uma etapa anterior da transformação, como na época das lutas fabris, na etapa de sabotagem.
Quando o Mészáros fala em romper com um tripé do sistema, no sentido da crítica também iniciada nos anos ’50 do século XX quando então sim, o Capitalismo de Estado praticado na Hungria e no Leste Europeu sob ocupação imperial soviética era baseado no capital, na massa assalariada e no controle do aparelho de Estado. Entendo que a sua obra só pode ser compreendida como uma crítica de pensamento marxiano (tentando fugir dos dogmas e das determinações) dentro do Estado de inspiração marxista que o perseguiu e o torno como Inimigo do Estado. A metabolização do capitalismo era vista por ele mesmo durante o regime de tipo partido único de linha soviética e no controle dos meios como essência do sistema. O controle dos meios é o equivalente para a política da classe de mercado oligopólio, constitutiva do capitalismo mesmo sob a forma estatal.
Já os DPIs precisam ser pensado em escala global, de cadeias planetárias de produção (como no setor de medicamentos, de química fina, dos semi-condutores, da engenharia de alimentos e agronômica) e não necessariamente nos direitos de reprodução ou exibição da indústria cultural. O problema em nosso mercado de trabalho é o de escassez de capitais em sentido monetário mesmo. A produção criativa, anti-hegemônica, alternativa e de sentido público não se sustenta pelas regras de mercado e ou temos políticas de tipo subsídio ou fundos de fomento ou não há condição de produzir com regularidade e com escala razoável, a não ser que haja adesão à indústria (suas regras, parte do formato, elementos do discurso intrínseco, dentre outras...) e, de sua parte, alguns setores da indústria queiram estes novos aderentes.

Economia Política do Audiovisual disse...

Oi Julio Cezar, queria fazer uma apreciação. Todo valo para ser lançado sem termos de comparação precisa de parâmetro. A Folha deu o valor esse de R$ 75,5 bi para a ampliação nacional da banda larga tem de ser vista perante a dimensão da economia brasileira. Vejamos em relação ao ano passado, já concluído. O PIB do Brasil, na expectativa de 2009 era de US$ 1,6 trilhão de dólares, cerca de R$ 3,143 trilhões de reais. Já neste mesmo ano, o total do Orçamento Geral da União aprovado para 2009 foi de R$ 1,581 trilhão, sendo R$ 756 bilhões referente à dívida e R$ 805 bilhões a receita total proveniente da arrecadação de impostos e contribuições. Assim, esse custo dado pelo periódico eletrônico da família Frias equivale a apenas 10% da União no ano fiscal de 2009. A construção do enunciado poderia ser: Com apenas 10% das dívidas da União, Brasil instala a Banda Larga de alta velocidade em todo o país! Como a maior parte destas dívidas são provenientes na forma de arrecadação rápida, o financiamenrto interno cobre os custos da Banda Larga, em especial se aproveitada já a rede instalada (a elétrica) ou se trabalhe com a expansão da rede sem fio. Outra forma de busca de recursos é escalonar a dívida interna dos estados e municípios para com a União com acordos de contrapartida de investimento direto na expansão da rede. Ou seja, é mais que possível, considerando as condições de investimento, o patamar tecnológico onde estamos e a universalização do ensino básico e médio (de má qualidade, mas com a existência do letramento inicial necessário para navegar na internet). Mas, estes itens acima citados são de ordem política e estratégica, ultrapassando os debates do interior do campo da comunicação através de angulação limitada.